quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Banespão e eu

Esta é uma crônica que escrevi quando estava desenvolvendo o Projeto Integrado para a Faculdade do Povo, onde atualmente curso o 3º semestre de Jornalismo.

Cá estou eu, frente a frente com um titã. O Edifício Altino Arantes, mais popularmente conhecido como “Banespão” faz parte de minhas remiscências mais remotas. De repente, sou arremesssado de volta no tempo. Entre as muitas brincadeiras de criança, lembro-me da molecada da vizinhança falando de um prédio gigantesco do qual podia-se enxergar nosso bairro que fazia parte da distante periferia. Via o filme do King Kong e imaginava ser esse o tal prédio. Criava essas lendas de criança de um macaco gigante que morava no Centro da cidade. O tempo continuou célere e os pensamentos infantis caíram por terra.

Quando era adolescente, fui trabalhar no Centro da cidade e fiquei maravilhado com a quantidade de prédios enormes que faziam parte do panorama. Mas aquele prédio branco, imenso, situado na Rua João Brícola me fascinava por demais. Já o havia visto nos comerciais de televisão e tinha ouvido alguns relatos sobre ele. A primeira vez que estive frente a frente com esse Golias de Concreto, a sensação foi de extremo medo de subir em sua torre. Não estava acostumado a estar num ponto tão alto. O mais engraçado é que o bichão vivia me “desafiando”, já que a firma onde eu trabalhava na Rua Líbero Badaró proporcionava um belo vislumbre dele. Quando ia fazer alguma tarefa na rua lá estávamos nós de novo, nos “medindo”.

Depois de um muitos e muitos anos, agora sou um quarentão casado, pai de família e no meio de um trabalho acadêmico que tem por tema os edifícios do Centro da cidade. Minha vontade era ter o Prédio Martinelli como objeto de estudo, já que tenho mais familiaridade com ele, após 11 anos trabalhando em suas dependências. Qual não foi minha supresa quando fiquei sabendo que trabalharia com o Banespão, que no passado alimentou minhas fantasias infantis e adolescentes. De volta ao presente, e diante do prédio, aquele temor pueril esvaiu-se e deu lugar à profunda admiração por sua majestade arquitetônica e sua importãncia histórica para cidade. Estudá-lo em seus diversos níveis culturais e acadêmicos foi como achar num álbum de família um parente distante que nunca conhecemos.

Cada um que está aqui do lado tem seus motivos para conhecer o mirante do Banespão. Seja os namorados estrangeiros (americanos?) tentando decifrar o panfleto explicativo, a turminha da bagunça que não pára de tagarelar, um singelo casal de idosos com um quê de boas recordações no olhar e uma família com algumas crianças a tiracolo que permaneciam o tempo todo comportadas e silenciosas. O trajeto até o mirante é pura “baldeação” de elevadores. Subimos até o 22° andar e depois até o 32° e após uns três lances de escada, chegamos ao 35° andar (ufa!!) e a um lance de escada da Torre. Finalmente, cá estou eu de frente para a minha cidade natal, tendo uma visão de 360° num raio de 40 km. O vento batendo no rosto apesar de um calor imenso e um céu maravilhoso que parecia sorrir para todos os que estavam visitando o mirante. Só não pude curtir mais aquele instante porque tinha que tirar fotografias e filmar o ambiente para o projeto acadêmico. Não posso esquecer de citar que para estar na torre, a tolerância para a permanência é de 5 minutos para cada turma visitante e o pessoal da segurança logo veio cortar o meu barato.

Ao me deslocar para o alto do prédio e vislumbrar os quatro cantos da cidade a partir de seu mirante, pude finalmente entender o que é estar num ponto tão alto, com o mundo lá embaixo aos meus pés.  Um ciclo completa-se e um outro, tendo meu filho como personagem, há de se iniciar algum dia. Espero sinceramente que o nosso querido e colossal Banespão possa estar por aí pelos próximos anos como eterna sentinela de nossa grande cidade.  

Banespão anos 80 - foto http://www.piratininga.org/

                                           

Um comentário:

  1. Sim, este prédio intimidava qualquer um, mas depois de estar dentro dele,podia se sentir abraçado por ele.

    ResponderExcluir